Monday, September 24, 2007


PUNK ROCK


Outro dia na terapia, tentei explicar para meu analista, o que era o Punk Rock para mim. Volta e meia, eu e Thiane também discutimos sobre o assunto. Eu não sou, nem nunca fui, nada punk. Mas o punk fez e faz diferença na minha vida até hoje. Eu lembro de começar a ir em shows sozinhas, com 15,16 anos e me apaixonar pelas músicas que mesmo com 2, 3 acordes fazia muito mais sentido do que uma música mais trabalhada. Nessas idas aos shows, fui conhecendo algumas pessoas, das quais, só algumas hoje em dia, eu respeito e admiro. Tenho um eterno carinho ao primeiro cara que conheci nessa historia toda. Mesmo distante, mesmo não sendo amiga, foi graças a ele que eu fui aprender como tudo funcionava. Depois, fui conhecendo mais gente, fazendo mais rolês, indo atrás de discos, livros, pessoas, tudo que era fonte para descobrir mais sobre o assunto. E então, também tentei criar, ao meu estilo, claro, minha contribuição, que na verdade era mais um agradecimento a toda essa cultura que tanto inspirou mudar minha vida para melhor.

O que aconteceu depois, e acho que esse caminho foi extremamente natural, foi que eu senti um esgotamento em relação a cena. Comecei a reparar um cenário que não se estendia mais. Eram as mesmas pessoas, a mesma banda, os mesmos lugares, os mesmos comentários , e isso fez com que muita gente especial começasse a perder seu tempo,com picuinha, fofoca, inimizades, e tudo aquilo que o próprio Punk prega com tanto louvor que isso não faz parte do cenário. Algumas pessoas, caíram por terra; conheci malucos e malucas, e também gente muito séria que dava um abraço pela frente e uma punhalada pelas costas, logo em seguida, subia no palco e gritava com todas as forças que era contra esse tipo de atitude. Vi também paranóicos usando a cena para chafurdar seus problemas e depois sumir fazendo as maiores teorias de quanto é perseguido. Mas isso é até engraçado, pensando bem.
O que eu vi, é que ao invés de seguir em frente, muitos caras,(não todos, é claro) sentaram na sala de estar e ficaram fofocando da vida alheia. Mulheres passaram pela sala, e eles continuaram ali, as mulheres evoluíram, deram adeus, e eles lá, sentados. Chegaram outras e a cena se repetiu. E se hoje, eu voltar pra cena, vou encontrar esses mesmos caras, com meninas novas, sentados no mesmo lugar, como se a cena estivesse morta, e não restasse mais nada que eles pudessem fazer; afinal, eles estavam ali, fazendo shows, tomando cerveja, "sendo punks", o que mais podíamos pedir?

Por outro lado, e o bom da vida é que sempre existe o outro lado, também conheci pessoas que mudam minha vida sempre. Trombei figuras históricas que tem meu respeito até o fim. E que, sempre que eu colar em um show ,não vou me arrepender de cruza-los. Tenho também amigas que compartilham comigo esta mesma visão da cena e que como eu, acabaram também por se distanciar. Pensando bem, as pessoas mais interessantes que eu conheci nesta cena, também estão distantes. Não tanto como eu, claro, elas ainda possuem bandas e vivem desse ideal, mas bem longe desse lado fútil que o Punk Rock, infelizmente, também pode oferecer. São pessoas que como eu, cansaram de ver o "vale a pena ver de novo", e foram seguir suas vidas, sem deixar tudo o que aprendeu com o Punk de lado.

Bem, tudo isso para dizer que hoje, fui ao médico e na sala de espera a televisão estava ligada na MTV e passava um programa que falava do Punk, quando ninguém mais, ninguém menos que o Ariel apareceu para dar depoimentos sobre o que ele pensava de tudo isso. E o cara falou simplesmente aquilo que eu tentei por meia hora explicar ao meu analista, sobre o Punk. Bem mais esperto e rápido o Ariel em frases colocou todo o sentimento que eu tenho pela cena. Ele disse mais ou menos assim: "Muitas pessoas hoje, se afastaram da cena, não fazem mais parte disso, foram fazer outras coisas, mas eu tenho certeza que essas mesmas pessoas, vão ter famílias melhores, e uma visão de mundo mais crítica do que a maioria". E é exatamente isso que eu falo,ou tento falar, do Punk Rock quando chego de coturno no samba, toda tatuada e as pessoas se espantam e vem logo perguntar o que estou fazendo por lá, respondo que estou em casa, que eu amo samba,mas que levo comigo o punk rock para ter uma visão melhor de tudo no mundo,e até mesmo,do próprio samba. Claro que isso não esta no meu modo de vestir,mas essa também foi uma herança que levo dos tempos de outrora.

1 comment:

Thiane said...

É isso aí Bel! A gente carrega a atitude, mas nem de longe a gente vai ficar aí, paradas no mesmo lugar, estagnadas, vendo o mundo passar. Adorei!!!!Beijão queridona!