Monday, November 06, 2006

i.crozera

-Sobre crise e menino mudo-

A crise parecia não ter fim. E a menina já estava virando mulher e nada de supera-la. Tinha dias em que ela sentia que flutuava, e a crise teve todo um lado poético e de inspirações, então ela ia embora e a menina demolida, começava de novo a se reerguer. Passado um tempo, a crise voltava; nem mais forte, nem mais fraca, mas a menina desmoronava tudo outra vez. E seguia de promessas de mudanças, e contia o choro e segurava as lembranças. Até a crise seguir rumo deixando novamente a menina em cacos. Pronta pra outra. Toda hora, todo momento bandido a menina tinha exatamente que estar pronta pra outra, era mesmo muito confuso. E ela passou a não saber mais lidar com isso. Igual aquela tarde em que ela tratou mal a pessoa que ama, igual a uma discussão que não tem fim. Pensou que era muito difícil gostar de alguém como ela gosta. Ela conta que estava do lado dele e era tudo tão carnal, uma química de dar choques uma coisa louca, deixavam ambos fracos, e mesmo assim, tinha horas que ela desejava se afastar dele, mas os encantos dos beijos dados e dos apertos e de todos os banhos suados tomados e costas, tudo, não deixava que ela ali se afastasse. Depois voltou pra casa. Reparou que todos os e-mails mandados por ele, tinham sido salvos, deixou os afazeres de lado para reler tudo o que já tinha sido dito e viu que talvez antes era tão mais lindo o jeito dele lidar com ela, que se assustou. Ficou mesmo muito triste e reclamou pra todo mundo do amor. Depois foi ao encontro dele, lá longe, muito longe para uma menina sozinha ir. E disposta a contar tudo o que sentia, ela se calou. Ela se rendeu e se calou e eles novamente foram um do outro e quando ele virava as costas, todas as dores voltavam, e ele tinha umas costas lindas, uma coisa louca. A menina quis chorar, mas não houve. Ela se calou, como nunca havia se calado antes e bem desconfiou que parte do amor que sente por ele, é cenil, é de pedra. Ela teve medo e ao mesmo tempo encanto em ver como ele mexia tanto com a menina que tanto gostava de falar, de expor amor, ódio e dor. Ele a fazia calar. Era raro, era de fogo, era imensamente perigoso e ela cegamente, com medo, obedecia. Nada foi dito, ela voltou já com saudades do menino, e novamente releu o que ele já tinha escrito para ela, e novamente pensou que as coisas não eram como antes. O menino mudo quer que todo mundo se cale também. Chegou a pensar que isso não era nada justo, mas ele a abraçava de um jeito tão homem, tão protetor, que ela o olhou com olhos de poço e pensou; quero isso pra sempre, mas não posso me calar. E o embate fez com que ela seguisse na dúvida e outros meninos-homens surgiram depois dele, mas nenhum o fazia. E sabe, não tinha mesmo jeito. Mas as coisas precisam ser ditas, o menino não pode seguir mudo no intuito de calar ela também; a menina segue no rígido impasse de gritar, ou calar ao lado dele.

No comments: